O certo era ler o livro todo, mas seria muito desvio de rota de minha parte, sabendo que meu objeto está fixo. Mas ele é a pedra fundamental para fechar a discussão epistemológica, sobretudo para completar Quines (1951). O texto escolhido então foi "On the Very Idea of a Conceptual Scheme". O texto trata basicamente da dualidade analítica e sintética. Só que a argumentação para a força da linguagem é bastante diferente dos que tinha lido anteriormente. Na verdade assim como todos, tenho a impressão que o empirismo sai fortalecido, mesmo sem que seja necessário testemunhar a seu favor.
Esquemas conceituais são formas de organizar experiencias, são sistemas de categorias que dão forma aos dados sensoriais, eles são pontos de vista dos quais indivíduos, culturas ou períodos buscam os cenários passados (DAVIDSON, 1973).
Percebam que nada Davidson (1973) falou sobre modelagem, certamente não era o seu foco, nem o meu, mas é possível sim afirmar que modelagens empíricas são esquemas conceituais observando o rigor conceitual do próprio. Categoricamente Davidson (1973) afirma que todos tem esquemas conceituais (por exemplo, religiões são esquemas conceituais) e todo esquema conceitual, provavelmente, possui esquemas rivais. Já que são originados pelos sentidos e isso explica tudo.
A existência de esquemas rivais é conhecida como paradoxo ou contradições. O relativismo conceitual nos afasta da ideia de que haja um real e um irreal, na verdade nosso ponto de estudo é muito mais modesto, o objetivo primário é tentar entender como estabelecer fronteiras entre os esquemas conceitais e como diferenciar esquemas conceituais novos de uma ideia estranha ou simplesmente absurda.
O esquema conceitual provavelmente mais conhecido é o idioma. Se esquemas conceituais diferem entre si, idiomas diferem também. Mas pessoas de diversos idiomas conseguem de alguma forma manter um esquema conceitual transversal e conversar através de traduções por entre diferentes idiomas. Sendo assim o problema é mais complexo do que se pensava, como diferenciar as categorias ordinárias de operação de linguagem e de estrutura de linguagem? (DAVIDSON, 1973) * traduzi livremente o termo language como idioma, por fazer mais sentido ao texto, mesmo que as vezes se aproxime de linguagem.
Podemos dizer que duas pessoas possem diferentes esquemas conceituais se falarem idiomas que não sejam possíveis de serem inter-traduzidos? Para Davidson (1973) não há idiomas que sejam totalmente não inter-traduzíveis, mas existem os que são parcialmente não inter-traduzíveis. Sendo assim é possível refletir sobre essa questão quando em casos de não haver tradução adequada para casos particulares entre diferentes idiomas.
Existem duas formas de se descrever um mundo verdadeiro em qualquer idioma utilizando um sistema fixo de conceitos (palavras com significado fixo). Algumas sentenças serão verdadeiras simplesmente porque os conceitos ou significados são verdadeiros (pessoas infelizes não são felizes), outros devido ao jeito que o mundo é (pessoas infelizes não conseguem atingir seus objetivos pessoais). Desistir da distinção analítica-sintética como base de entendimento da linguagem é desistir da ideia de que podemos claramente a teoria da linguagem. (DAVIDSON, 1973).
Ou seja, a linguagem tem sua capacidade assertiva questionada e quando no embate perante ao empirismo, assume papel secundário. Outros autores acompanham Davidson:
Nosso argumento contra o significado fixo é simples e claro. Usualmente adotamos significados (princípios) que estão envolvidos com teorias antigas e que são inconsistente frente a novas teorias. A solução é natural, substituir os antigos princípios por novos, eliminando os antigos significados. (FEYERABEND, 1962).
Davidson (1973) admite que seu posicionamento é conflitante com o de outros autores como Quine, Smart, Wittgenstein e Ryle. E ele justifica em linhas gerais que não vê a linguagem como limite e que não admite que a solução para substituições de esquemas conceituais sejam unicamente a alteração na linguagem. pro cara bater com essa gente grande aí tem que ser muito foda heim
O dualismo sintético-analítico julga as afirmações verdadeiras ou falsas devido ao seu significado e ao seu conteúdo. Se abandonarmos o dualismo, nos abandonamos a concepção de significado quem vem com este, mas não abandonamos o conteúdo empírico. Podemos sustentar, se quisermos, que todas as sentenças tem conteúdo empírico. (DAVIDSON, 1973)
Conteúdo empírico é explicado pela referência aos fatos, o mundo, experiências, sensações, a totalidade do estímulo sensorial ou algo similar. Significado nos dá uma forma de falar sobre categorias, organização das estruturas de linguagem. É possível abandonar os significados e a analiticidade enquanto mantemos a ideia da linguagem enquanto incorporando esquema conceitual. (DAVIDSON, 1973).
Davidson (1973) sustenta ainda que não é necessário atrelar o empirismo ao modelo lógico de afirmações sentença por sentença.
A linguagem produz uma organização das experiências. Somos inclinados a pensar a linguagem simplesmente como uma técnica de expressão, e não entender que a linguagem primeiramente é a classificação e o arranjo de sensações que resultam em uma certo mundo-demandado. Ou seja, linguagem faz, em suas devidas proporções, o mesmo papel da ciência. Nós somos então introduzidos a novos princípios de relativismo, o qual sustenta que todos os observadores não são levados pelas mesmas evidências físicas à mesma figura do universo, a não ser pelo suporte linguístico que é similar entre todos, ou pode ao menos ser calibrado (WHORF, 1956).
Feyerabend (1965) sugere que nós podemos comparar esquemas conceituais contrastantes pela escolha de um ponto de vista externo ao sistema ou a linguagem. Isso é possível pois há ainda experiências humanas como processos reais, independente dos esquemas conceituais.
A experiência sensorial provê todas as evidências para a aceitação das sentenças (mesmo as que sejam completamente teóricas) (DAVIDSON, 1973).
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