E
por vezes me pergunto qual o objetivo de se escrever um artigo. Certamente me
agradam mais os texto com os quais posso aprender, mas para isso, algo hão de
me ensinar, e se posso aprender é porque neles verdades que não me eram
conhecidas são apresentadas. Acreditar em tais verdades é o cerne de minha
discussão. Há tempos homens discutem quais rigores são necessários para se
postular ou não uma verdade, temo que por vezes qualquer esforço justificativo
seja simplesmente negligenciado e fatos sejam solenemente substituídos por
factóides. Não que seja possível cravar o rigor definitivo, mas certamente é
possível afirmar quais rigores são frouxos o suficiente para não serem levados
a sério.
Tenho
freqüentado congressos e lido artigos na área de publicidade e marco isso como
objeto de análise. Tomo de empréstimo o slogan do INTERCOM Nacional 2011 “Quem
tem medo da pesquisa empírica?” e reflito sobre o que é empirismo.
A
grande contribuição da escola empirista foi inverter o fluxo das ideias, que
para os racionalistas essas deveriam vir de dentro para fora, e aos empiristas,
em primeira instancia, de fora para dentro. Não se perde de todo o argumento
de Descartes (2006) e da escola racionalista, algumas de suas
considerações como a forma de combinar ideias e o onipresente método axiomático
(de origem euclidiana) ainda são válidos e amplamente utilizados. É verdade que
pensar em uma ciência livre das experiências não é digna de atenção. Nem mesmo
se considerarmos experiências da mesma forma como Descartes (2006). O que a
escola empírica fez não foi apenas o óbvio ululante de propor que as
experiências de fato contribuem (e muito) para a formação de nossas ideias,
eles, de fato, investigaram um pouco mais a fundo, e inclusive discutem como
elas são organizadas, agrupadas, como o raciocínio participa do processo e como
é possível ter idéias racionais (não puras).
E
sendo assim, desafio a quem possa me apresentar um artigo que não seja
empírico. De fato tudo que tenho visto é empírico, mas isso não é uma crítica
ao emprego da palavra empírica no slogan, é na verdade um exercício que farei
agora para tentar entender qual a mensagem que foi passada. Me inquieta na
verdade o que escutei de uma aluna a pouco tempo, que na impossibilidade de
fazer uma pesquisa de campo me disse que faria um artigo teórico. Mas qual o
real sentido desta divisão de mínima complexidade para entendimento, mas que
talvez seja a resposta para a mensagem do slogan.
Empírico
como sinônimo de pesquisa de campo é realmente uma aplicação comum, assim como
teórico para quando não há coleta de dados primários. O que realmente não é
suficiente para classificar o texto como racional ou empírico, de fato texto
racional não existe mais há tempos, e redundar que tudo é empírico é
desnecessário. O meu questionamento é se em algum grau podemos afirmar que
pesquisa de campo é uma ferramenta melhor do que simplesmente argumentar com
base em terceiros.
Não,
não vejo o advento da pesquisa primária como divisor de trabalhos bons e ruins.
De certo, nada me serve a perfeição nos cinco sentidos sem um cérebro apto a
raciocinar. O que fatalmente faz com que alguém se destaque não é a qualidade
de entrada dos dados, mas o processamento que os leva a uma saída improvável
para os menos capazes. Entendo perfeitamente que se o slogan fosse “Quem tem
medo de pensar” soaria ofensivo e desnecessário, mas real.
Assim
como um bom médico que clinica sob exames terceirizados, percebo que mentes
brilhantes não precisam jamais ir a campo para chegar a conclusões verdadeiras.
Mas eu falo dos brilhantes, e não da maioria. O problema notório é que em nossa
tribo sobra quem queria pensar e falta quem queira trabalhar. Há muito se nota
que para cada bom metodólogo existem vários que se dizem teóricos. E sim,
também clamo por melhores pesquisas primárias, e de todo concordo com o nosso
slogan.
Pelé
não faria nem 10 gols se não houvesse quem o servisse. O tempo de Galileu que
pensava, colhia dados, analisava e interpretava já se foi. Vivo nos corredores
de iniciação científica e pós-graduação desde que me entendo por estudante. E
vejo que não há quem se dedique exclusivamente a coletar dados. Seria
inimaginável uma medicina sem laboratório, e muito pior um laboratório sem
biomédicos, mas o que vejo em nossa área é que somos cegos, surdos e mudos
tateando no escuro em busca de algo tangível para analisarmos.
Dos
três erros possíveis (coleta, análise e interpretação) o mais grave certamente
é o de coleta, pois nos obrigaria a refazer todo o estudo. E o menos grave é o
de interpretação, pois, dentro de nossa humildade acadêmica aceitaríamos as
críticas pertinentes e paulatinamente o trabalho seria melhorado. E para não
errar na coleta é necessário rigor.
Seja
qual for a técnica utilizada para coleta de dados, todas elas possuem um rigor
único, o dado deve ter qualidade para análise. É preciso ser muito seguro na
escolha do método, conhecedor de todos os rigores. Vejo as técnicas de coleta
de dados como um conjunto de ferramentas, a quem bata um parafuso com um
martelo, mas o certo é usar a chave de fenda, ou estrela. A precisão de uma
serra elétrica é sem dúvida maior de que um serrote, sabemos os custos e os
riscos, mas jamais me digam que um carpinteiro do serrote está melhor equipado
que uma fábrica de pré-moldados automatizada.
Mas
então, se em um mundo fictício nossos dados primários fossem extraídos com bastante
malemolência, à revelia, e coisas como utilizar alunos de graduação e
observação informal se fizessem regra e não uma triste exceção? Temo que nesse
mundo irreal nem uma só palavra teórica deveria ser levada a sério. Não que de
tudo fosse perdido, mas que separar o bom do ruim fosse tão trabalhoso que
simplesmente recomeçar do zero se mostraria uma saída triunfal. Neste cenário
de achismo intelectual uma grave constatação seria feita, nossa verdade é
falsa. Até porque ser verdade não é ser real.
E se nada for verdade?
Duas
proposições são coerentes quando ambas podem ser verdadeiras, e são incoerentes
quando uma, pelo menos, deve ser falsa. Mas a fim de saber se duas proposições
são ambas verdadeiras devemos conhecer verdades como a lei de contradição. (RUSSELL,
2005).
Verdade e falsidade são dois lados da moeda mais utilizada em
qualquer estudo. Mas sua definição é certamente de rara aparição, tomemos como
conceitos já conhecidos por todos. O que de fato não são. A verdade objetiva ou
subjetiva obedece a regras, que a tornam verdadeira, ou falsa.
O conhecer é um verbo que não possui antônimo.
Ou se conhece, ou não se conhece, mas uma vez que está conhecido, não há
palavra para explanar um falso conhecimento, ao contrário da verdade, que em
sua forma oposta se torna falsidade. Quando conhecemos uma pedra, pedra esta
que é fruto do nosso conhecimento e só, entretanto poderemos pensar em verdades
e falsidades sobre a pedra. Nosso objeto de estudo aqui é a verdade, e não o
conhecimento.
Russell (2005) levanta então três pontos necessários para o entendimento
da verdade:
1) A teoria da
verdade deve ser tal que admita o seu oposto, a falsidade, visto que no caso do
conhecimento direto não era necessário levar em conta o oposto.
2) De fato, a
verdade e a falsidade são propriedades das crenças e dos enunciados; portanto,
um mundo de pura matéria, dado que não conteria crenças nem enunciados, não
conteria tampouco verde ou falsidade.
3) A verdade
ou falsidade de uma crença sempre depende de alguma coisa externa à própria
crença. Portanto, embora a verdade e a falsidade sejam propriedades das
crenças, elas são propriedades que dependem das relações das crenças com outras
coisas, não de alguma qualidade interna das crenças.
A verdade
consiste em uma forma de correspondência entre a crença e o fato. (RUSSELL,
2005). Ela está externa as crenças, e de certa forma externa aos fatos também,
é firme então na relação entre estes, sabe-se que realidade e verdade são
coisas distintas, e o que as fazem correspondentes é o conceito de coerência.
É possível
que, com suficiente imaginação, um romancista possa inventar um passado para o
mundo que seja perfeitamente compatível com o que conhecemos e, não obstante,
seja completamente diferente do passado real. Em muitas questões científicas é
certo que existem frequentes duas ou mais hipóteses que explicam todos os fatos
conhecidos sobre algum assunto, e embora em tais casos os cientistas tentem
encontrar fatos que excluam todas as hipóteses exceto uma, não existe razão
alguma para que sempre sejam bem sucedidos (RUSSELL, 2005).
Jamais haverá
garantia de que conhecemos o mundo como ele realmente é, apenas podemos dizer
que nossa verdade é compatível com o que dele percebemos. E para isso existe
método.
Também na
filosofia não parece incomum que duas hipóteses rivais sejam ambas capazes de
explicar todos os fatos. A outra objeção a esta definição da verdade é que ela
supõe que sabemos o significado de "coerência", enquanto que, na
realidade, a "coerência" pressupõe a verdade das leis da lógica. Por
estas duas razões, a coerência não pode ser aceita como algo que fornece o
significado da verdade, embora seja frequentemente um importante teste da
verdade depois que certa soma de verdade nos é conhecida (RUSSELL, 2005).
Sendo assim, o
conceito que sustenta a verdade é a correspondência com o fato. Vamos mais
fundo nessa afirmação de Russell (2005). Ele vincula verdade a crença. Não à
justificação da crença, que é papel da epistemologia, mas a correspondência
entre os fatos da crença. A mente ao propor uma crença qualquer não pode
afirmar se esta é verdadeira ou falsa, mas ela pode afirmar que existem
objetivos e relacionamentos presentes na crença. Por exemplo: Pedro acredita
que Paulo ama Maria, neste exemplo temos quatro termos (A) Pedro, (B) Paulo,
(C) Maria e (D) ama. Neste caso A julga B e C através de D. Sendo A o sujeito
da ação de julgar e os demais objetos.
O que
denominamos crença ou juízo não é outra coisa a não ser esta relação de
acreditar ou julgar, que relaciona uma mente com várias coisas diferentes dela
mesma. Um ato de crença ou de juízo é a ocorrência entre certos termos em um
tempo determinado da relação de acreditar ou julgar. Em todo ato de juízo há
uma mente que julga e os termos sobre os quais ele julga (RUSSELL, 2005).
No nosso
exemplo a mente A, julga que B, C e D existem e desta forma a crença torna-se
verdadeira, se qualquer um não tiver sua existência comprovada (por método de
pesquisa) a crença é falsa. Por exemplo, Pedro acredita que João ama Maria, ou
Pedro acredita que Paulo odeia Maria, ou Pedro acredita que Paulo ama Ana. Em
todos os exemplos há uma não existência de um dos objetos da crença original, o
que a torna falsa.
Assim, uma
crença é verdadeira quando ela corresponde a um determinado complexo associado,
e falsa quando não corresponde. Admitamos, para maior clareza, que os objetos
das crenças sejam dois termos e uma relação e que os termos sejam colocados
numa certa ordem pelo "sentido" de acreditar. Então, se os dois
termos naquela ordem são unidos num complexo pela relação, a crença é
verdadeira; se não, ela é falsa (RUSSELL, 2005).
Lembremos, as
crenças são fruto das mentes e dependem desta para sua existência (em nenhuma
conexão com a realidade ou conhecimento), mas estas não dependem da mente para
serem verdadeiras (dependem exclusivamente de fatores externos, da percepção
nossa da realidade, e suas relações).
Como se pode
ver, a mente não cria a verdade ou a falsidade. Ela cria as crenças, mas uma
vez criadas, a mente não pode torná-las verdadeiras ou falsas, exceto no caso
especial onde elas dizem respeito às coisas futuras que estão dentro do poder
da pessoa acreditar, como tomar o trem. O que torna uma crença verdadeira é um
fato, e este fato não envolve de modo algum (exceto em casos excepcionais) a
mente da pessoa que tem a crença (RUSSELL, 2005).
E se a noção
intuitiva de verdade como uma espécie de acordo entre a crença e uma instância
exterior (fatos) for mantida, então podemos ter opiniões verdadeiras de cuja
verdade não sabemos. Á primeira vista, essa situação é desconcertante, pois
seria natural desejar que também fossem verdadeiras aquelas opiniões das quais
temos certeza. Mas a certeza não é um critério indicativo de verdade (DUTRA,
2010).
E desapoiados
dos dados primários, tudo que construímos são crenças e não verdades. E das
crenças tudo pode ser afirmar, sobretudo que são falsas. E das verdades que
foram construídas sobre dados de métodos sem rigor, não é justo que tomemos
como falsos, porém nada mais são do que crenças. Mas se para todos os
propósitos práticos algumas crenças publicitárias são tão mais fortes do que as
verdades, devemos a tudo condenar?
A verdade analética da publicidade
O
conhecimento publicitário é construído sob o insumo que temos. Pesquisas com
baixo ou nenhum rigor metodológico e diversas mentes com excelente capacidade
para postar verdades (ainda que crenças). A característica particular desta
área é justamente a forma como a academia aceita as crenças como verdades, e
mais, como conhecimento. E confesso que alguns (poucos) artigos são tão bem
escritos que mesmo sem sombra alguma de rigor na coleta de dados primários, me
convencem que estou de fato em face ao correto. Vejamos entretanto quais são as
formas de construção do conhecimento, podemos apontar pelo menos três tipos de
conhecimento, e eles são: (OLIVA, 2011)
1. Saber fazer:
É quando o conhecimento é usado com o sentido de saber como, de saber fazer (know how). O saber que possibilita a
realização competente de algo é uma forma de conhecimento. Dispensa
justificação por este ser adquirido (ou inato) sem necessidade de
fundamentação. É livre à fundamentação teórica.
2. Conhecimento por contato: Conhecer ter estado
lá, de ter entrado em contato direto. Neste caso o objeto é diretamente
apreendido, não há necessidade de mediação de qualquer processo de inferência
ou de qualquer conhecimento da verdade, baseado nos sentidos. É nele que
Russell (2005) acredita estar o maior grau de certeza do sujeito ao se
construir crenças, ou proposições.
3. Conhecimento
proposicional: É o conhecimento por descrição, e sobre ele se aplica a
definição de conhecimento como crença verdadeira e justificada. (já deu pra
notar que eles se embolam uns com os outros). Como o conhecimento proposicional
resulta da relação entre uma pessoa e uma proposição verdadeira, saber em que
consiste essa relação - em especial, saber que condições são necessários e
suficientes para S saber que P - é o grande desafio da epistemologia.
Sem
maiores explicações eu acredito que o 1 e o 2 sejam pertinentes para qualquer
área do conhecimento e logicamente que um publicitário que atua a tempos no
mercado terá de fato um conhecimento privilegiado sobre esse. E pelo principio
de 2, quem for 1 poderá transmitir de alguma forma o conhecimento, mas por
tutoria, mentoria ou coaching. O fato
é que se alguém escreve um livro ou um artigo, estamos falando de 3. Não
considero uma sala de aula ambiente para 2, a não ser que o conhecimento em
questão seja relativo a didática. Sendo assim, 3 é o predominante, enquanto que
1 é o mais respeitado. Dizer que quem tem 1 poderá disseminar 3 só é verdade se
as normas de 3 forem observadas, e elas são basicamente e argumentação
proposicional.
Mas
não é isso o que observo. Sem dúvida que uma pessoa respeitada na área tem
liberdade para postar crenças como se fossem verdades e estas se tornam como
tal para todos os propósitos práticos. Certa vez assistindo uma apresentação de
alguém certamente influente entre os publicitários observei duas coisas, a
primeira é que não houve nem sinal de rigor metodológico para coleta de dados
primários, a segunda é que todos, inclusive eu, eram completamente incapazes de
não concordar e não tomar aquelas crenças como verdades absolutas.
Sem
dúvida mérito da argumentação. Aproveitando o ritmo e sem cerimônia descrevo um
método lógico que até então não se aplica as áreas que também estudei, mas
certamente é a essência de publicidade, a argumentação analética. O
conhecimento proposicional (que chamarei apenas de conhecimento daqui em
diante) é construído sobre a capacidade de se justificar crenças, cada
justificação bem sucedida leva o nome de verdade.
A
verdade pode ser justificada através de dois métodos, o analítico e o
sintético. Há uma rachadura fundamental entre as verdades que são analíticas
(fundamentadas nos significados independentemente dos fatos) e sintéticas
(fundamentadas em fatos) (QUINES, 1951). Embora se possa afirmar que
reduzindo-se qualquer argumento analítico acabaremos em uma premissa sintética,
eu postulo uma separação mais clássica, basicamente sintético para experiências
e analítico para significados que surgiram a partir destas experiências.
Dizer
que a chama queima após botar a mão no fogo é uma verdade sintética, mas se sei
que algo tão quente quanto o fogo mesmo que não tenha chama também pode
queimar, mesmo sem imaginar que objeto possa ser esse, é uma racionalização com
mais força analítica que sintética. E esse tipo de verdade analítica é a que
domina as pesquisas em publicidade. Mas com um detalhe... não é puramente
analítica.
Explico,
por ser uma área bastante prática com abundancia de exemplos, é normal que ao
se postular qualquer verdade analítica se utilizem exemplos que nos levam a
experiência. Dizer que a coleta de dados seguir a conclusão não é habitual é
desnecessário. O que é interessante é que esse dado primário não tem a menor
função analítica!
Em
grande parte dos trabalhos, em verdade, ele é completamente desnecessário e surge
como uma mera ilustração. Mas não sejamos tão levianos, é bastante plausível
que o argumento tenha sido construído a partir da experiência do autor com a
peça publicitária e que por alguma ou outra razão esse fato é omitido no
registro textual e o que era verdade sintética torna-se analítica. E porque ele
é omitido?
Não
acredito em descuido ou tentativa de se mostrar mais intelectual do que de fato
é, meu palpite é que seja um estilo de justificativa de crenças próprio de
publicidade. Vamos aos meus argumentos. Autores de publicidade estão em contato
com objetos de pesquisa no seu dia-a-dia e não conseguem ao menos separar uma
observação científica de registros despretensiosos de memória, afinal, a super
exposição às diversas mídias já é material suficiente para análise. Seria hipocrisia reservar um
método de observação científico para uma peça que se teve contato dezenas de
vezes anteriormente.
Mas
isso não significa que encontramos uma verdade analítica. Ela é sintética, ou
seria, já que não houve método rigoroso. Nem ao menos poderemos chamar de
método esse conjunto de experiências diárias sem nenhum rigor científico. Então
de fato o que há é uma formação de idéias a partir de experiências e para
justificar essa idéia apóia-se a um suporte teórico, mas para aceitação
acadêmica ela surge como analítica. Sendo assim, uma falsa analítica.
Chamo
então de analética, ou falsa analítica, pois na verdade sua gênese é sintética.
E se não há rigor científico, somos convencidos pela argumentação analítica. É
o que acontece com a maioria dos artigos que mesmo sem o menor rigor na
extração dos dados primários me convencem de que suas verdades não necessitam
de mais esclarecimentos, mesmo que às vezes se assemelhe mais a uma epifania
que a um estudo científico.
Acredito
então que a maior parte das pesquisas em publicidade são de fato empíricas. Não
se deve confundir a argumentação analética com a falta total de rigor. Ela deve
ter o mesmo rigor que qualquer justificação analítica e o conjunto de verdades
analéticas em publicidade constroem o conhecimento da área. Fica
claro que minha preocupação neste texto era de apresentar a solução da
justificação analética que observo como já predominante em publicidade. Não
pretendo propor método (ou técnica) de pesquisa, pois isto só será possível
após a maturação do conceito de verdade analética.
Conhecimento inferencial
O
rigor do método analético é algo que investigarei em um futuro conveniente. Até
o momento o que temos são inferências que ocorrem, como já disse, despretensiosamente.
Existem duas formas de se chegar a um conhecimento. Através das
construções lógicas ( verdade analítica), ou através de inferência (sintética).
Em comparação, a inferência é o processo mais simples de conhecimento, já que
através da lógica necessitamos de um certo esforço intelectual. Inferência
é conhecimento de algo unicamente pelo sentido e pelo nosso julgamento.
Quando consideramos uma inferência do ponto de vista
psicológico, o que está em questão é o conteúdo das proposições envolvidas,
seus significados, e não a forma lógica do argumento que resulta em colocar
tais proposições em relação, que é a preocupação da lógica. Inferir um objeto a
partir de outro é então supor que certos dados ou informações testemunham a
existência do objeto inferido (DUTRA, 2010).
Quando vemos um
carro na rua e tomamos conhecimento dele como tal, realizamos um processo de
inferência. Simples assim. Para toda e qualquer pergunta de pesquisa (simples)
teremos uma resposta baseada em conhecimento inferencial. Sempre acharemos uma
resposta pronta em nossa cabeça que consideramos verdade ou com grande
probabilidade de ser real. Daí um motivo para o quase infindável processo de se
propor algo inédito no doutorado, é impossível pensar em algo que não se
conhece.
Como nossas
inferências podem estar erradas, obviamente, desejamos ter segurança em
fazê-la. Isso tem relação com a necessidade de um critério para avaliarmos
nossas inferências. Em geral, nossas inferências da vida real são aquelas que
se apresentam como "a melhor explicação" (DUTRA, 2010).
Neste caso, estamos tomando a inferência
como o processo pelo qual passamos de certo objeto de conhecimento para outro,
independente de se tratar de uma boa ou de uma má inferência. Fazer uma
inferência é presumir a existência de um objeto a partir de poucas informações
(DUTRA, 2010).
Daí
então perceber em uma peça publicitária alguma característica que depois se
tornará seu objeto de estudo é inferencial. Minha ressalva é que esse processo
não e consciente, ou pelo menos seu início não o é. Como dito, os pesquisadores
publicitários estão inferindo dia e noite em frente a televisão, ao computador
ou simplesmente caminhando na rua.
Em
primeira instância descarto essa prática como método científico portador de
rigor, mas não a descarto como possibilidade científica. Certamente essas
crenças que surgem dos ensaios publicitários são tão convincentes que por vezes
desafiado a negar sua veracidade analiticamante, me sinto incapaz. Demonstrando
outra característica da analética. Por mais que sua argumentação se mostre
racional seu cerne é empírico e só por este método é capaz de contra
argumentá-la.
Por
tempos essa lógica persiste, não há necessidade de distanciamento da
publicidade as ciências duras para justificar tamanha inovação epistemológica.
Creio que em ambos os campos existam o mesmo universo de possibilidades, não
adentrarei neste esforço racional que me tomaria outro texto de mesmo tamanho
ou maior, mas com certa dose de certeza pessoal acredito que a analética não é
exclusiva de publicidade, e se nela pude observar é devido a minha proximidade
com o campo e a vivencia entre os pesquisadores.