Até onde pude observar nos demais trabalhos um dos clássicos na área é o artigo "Is justified true belief knowledge?" (algo como = Uma crença real justificada é conhecimento?) de Edmund Gettier. O texto de 1963 tem 3 páginas. É com grande desconfiança que abro o pdf. Eis que me deparo com o pior, o texto é em tópicos e no total apenas uns 10 parágrafos. Não é possível!! Eis que leio o texto, pqp, o cara é foda mesmo. Vou apresentar aqui o meu fichamento sem nenhuma pretensão que seja fácil de entender
Como já foi dito, epistemologia envolve mais lógica do que prega o senso comum. Então o que é discutido aqui é justamente isso. Tomemos 3 soluções lógicas para o mesmo problema (favor não pensar em nenhuma escola epistemológica, apenas no mecanismo puro).
Problema: É verdade que S conhece P se (tem que ser pausado e sempre repetindo o enunciado antes de cada situação para não ficar maluco):
(a) P for verdadeiro / S acredita em P / S tem justificativa para crer em P
(b) S aceita P / S tem evidencias adequadas para P / P for verdadeiro
(c) P for verdadeiro / S estiver certo de que P é verdadeiro / S tem o direito de estar certo que P é verdadeiro
Qual é a correta, uma, todas ou nenhuma? Nenhuma delas. A grande intervenção de Gettier (1963) foi justamente essa, ele afirma primeiro que todas elas falham na questão relativa a teoria da justificação. Elas na verdade se igualam pois "S tem justificativa para crer em P" equivale à "S tem evidencias adequadas para P" que equivale também à "S tem o direito de estar certo que P". E essas três sentenças são destruídas pelo argumento: é possível que uma pessoa tenha uma crença justificada em uma preposição que é falsa. Ou seja, se a epistemologia dependa da justificação, esta não e garantia de verdade.
Calma que ainda tem mais confusão. Se S tem um conhecimento justificado em P e P implica em Q, e S deduz Q de P e aceita Q como resultado desta dedução, então S tem uma crença justificada em Q.
Até então, Gettier (1963) conseguiu desconstruir a lógica baseada em justificação. É como se um aluno qualquer ao escrever sua tese tivesse condições plenas de justificar teoricamente suas proposições, porém, sem garantia nenhuma que mesmo justificadas estas são verdadeiras. Dois casos são apresentados no artigo de Gettier (1963): (já que são pequenos, irei traduzir, as minhas anotações estão em itálico)
Caso Primeiro
Suponhamos que Smith e Jones vão tentar um emprego. E suponhamos que Smith tem fortes evidencias para:
(d) Jones é o homem que conseguirá o emprego (devido a uma informação privilegiada do presidente da empresa), e Jones tem 10 moedas no bolso (Smith as contou dez minutos atrás).
(e) O homem que conseguirá o emprego tem 10 moedas no bolso.
Perceba que são apresentadas as sentenças declarativas juntamente com as suas justificações, e segundo os pressupostos lógicos, tudo isso é verdade, S conhece P.
Smith tem crenças justificadas sobre (d), mas acredita em (e) por dedução. Sendo assim, (e) é verdadeiro para ele. Quase todo nosso conhecimento é construído desta forma, pode parar pra pensar.
Imaginemos então que desconhecidamente, Jones não consegue o emprego, quem consegue é o próprio Smith. E também desconhecidamente Smith tem dez moedas em seu bolso. A proposição (e) permanece verdadeira, enquanto a preposição (d) tornou-se falsa.
Ficamos então assim: (e) é verdadeira, Smith acredita quem (e) é verdadeira e Smith tem crenças justificadas de que (e) é verdadeira. O que Smith não sabe é que (e) é verdadeira em virtude do número de moedas que ele mesmo tem em seu bolso, informação que ele não sabia. Então Smith acreditou em (e) baseado em uma falsa informação sobre o homem que iria conseguir o emprego.
Caso Segundo
No outro exemplo Gettier (1963) imagina que Smith tem uma crença justificável de quem (f) Jones tem um carro Ford (por que sempre o viu com um desses). Existem também um outro amigo chamado Brown, sob o qual Smith não tem mas nenhuma informação. Então ao acaso ele escolhe três lugares e constrói as seguintes proposições:
(g) Ou Jones tem um Ford, ou Brown está em Boston;
(h) Ou Jones tem um Ford, ou Brown está em Barcelona;
(i) Ou Jones tem um Ford, ou Brown está em Brest-Litovsk.
Todas essas proposições são implicações de (f). Imaginemos que Smith acredita, devido a fortes evidencias em (f) e logo aceita também como verdade (g), (h) e (i). Pois Smith não faz a menor ideia de onde realmente está Brown.
Mas imaginemos que Jones não tem um Ford, ele na verdade dirigia um carro alugado, e por uma coincidência Brown está vivendo em Barcelona. Sendo assim: (h) é verdadeira, Smith acredita que (h) é verdadeira e Smith tem uma crença justificável de que (h) é verdadeira.
Gettier (1963) demonstrou que os raciocínios lógicos apresentados não são suficientes para assumirmos que S conhece P.
Sem mais exemplos, sabemos agora que uma pesquisa muito bem justificada, pode chegar a um resultado falso. Isso porque a dedução lógica não prevê eventos desconhecidos. E como saber que eles existem, já que são desconhecidos?
O argumento de Gettier (1963) destrói a nossa figura do post sobre epistemologia e pior, questiona toda nossa lógica epistemológica da teoria da justificação. Nada ficará sem resposta, mas no momento já disse demais por hoje.
tenho uma dúvida, naquela coisa de ''Se S tem um conhecimento justificado em P e P implica em Q, e S deduz Q de P e aceita Q como resultado desta dedução, então S tem uma crença justificada em Q''
ResponderExcluirquer dizer com isso que acabamos sempre por deduzir Q que não conhecemos ??
ao certo de onde vem o Q afinal??
Isso, quer dizer que conheceu algo sem ter experimentado. Conhece por dedução lógica.
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