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22 de ago. de 2011

Afinal, o que é a Verdade?



     Duas proposições são coerentes quando ambas podem ser verdadeiras, e são incoerentes quando uma, pelo menos, deve ser falsa. Mas a fim de saber se duas proposições são ambas verdadeiras devemos conhecer verdades como a lei de contradição. (RUSSELL, 2005).
    Verdade e falsidade são dois lados da moeda mais utilizada em qualquer estudo. Mas sua definição é certamente de rara aparição, tomemos como conceitos já conhecidos por todos. O que de fato não são. A verdade objetiva ou subjetiva obedece a regras, que a tornam verdadeira, ou falsa.
    O conhecer é um verbo que não possui antônimo. Ou se conhece, ou não se conhece, mas uma vez que está conhecido, não há palavra para explanar um falso conhecimento, ao contrário da verdade, que em sua forma oposta se torna falsidade. Quando conhecemos uma pedra, pedra está que é fruto do nosso conhecimento e só, entretanto poderemos pensar em verdades e falsidades sobre a pedra. Nosso objeto de estudo aqui é a verdade, e não o conhecimento (que já foi abordado aqui, aqui, aqui e aqui).
   Russell (2005) levanta então três pontos necessários para o entendimento da verdade:

   1) A teoria da verdade deve ser tal que admita o seu oposto, a falsidade, visto que no caso do conhecimento direto não era necessário levar em conta o oposto.
   2) De fato, a verdade e a falsidade são propriedades das crenças e dos enunciados; portanto, um mundo de pura matéria, dado que não conteria crenças nem enunciados, não conteria tampouco verde ou falsidade.
   3) A verdade ou falsidade de uma crença sempre depende de alguma coisa externa à própria crença. Portanto, embora a verdade e a falsidade sejam propriedades das crenças, elas são propriedades que dependem das relações das crenças com outras coisas, não de alguma qualidade interna das crenças.

    A verdade consiste em uma forma de correspondência entre a crença e o fato. (RUSSELL, 2005). Ela está externa as crenças, e de certa forma externa aos fatos também, é firme então na relação entre estes, sabe-se que realidade e verdade são coisas distintas, e o que as fazem correspondentes é o conceito de coerência (abordado aqui e aqui).
   É possível que, com suficiente imaginação, um romancista possa inventar um passado para o mundo que seja perfeitamente compatível com o que conhecemos e, não obstante, seja completamente diferente do passado real. Em muitas questões científicas é certo que existem frequentes duas ou mais hipóteses que explicam todos os fatos conhecidos sobre algum assunto, e embora em tais casos os cientistas tentem encontrar fatos que excluam todas as hipóteses exceto uma, não existe razão alguma para que sempre sejam bem sucedidos.(RUSSELL, 2005).
   Jamais haverá garantia de que conhecemos o mundo como ele realmente é, apenas podemos dizer que nossa verdade é compatível com o que dele percebemos. E para isso existe método.
   Também na filosofia não parece incomum que duas hipóteses rivais sejam ambas capazes de explicar todos os fatos. A outra objeção a esta definição  da verdade é que ela supõe que sabemos o significado de "coerência", enquanto que, na realidade, a "coerência" pressupõe a verdade das leis da lógica. Por estas duas razões, a coerência não pode ser aceita como algo que fornece o significado da verdade, embora seja frequentemente um importante teste da verdade depois que certa soma de verdade nos é conhecida (RUSSELL, 2005).
    Sendo assim, o conceito que sustenta a verdade é a correspondência com o fato. Vamos mais fundo nessa afirmação de Russell (2005). Ele vincula verdade a crença. Não à justificação da crença, que é papel da epistemologia, mas a correspondência entre os fatos da crença. A mente ao propor uma crença qualquer não pode afirmar se esta é verdadeira ou falsa, mas ela pode afirmar que existem objetivos e relacionamentos presentes na crença. Por exemplo: Pedro acredita que Paulo ama Maria, neste exemplo temos quatro termos (A) Pedro, (B) Paulo, (C) Maria e (D) ama. Neste caso A julga B e C através de D. Sendo A o sujeito da ação de julgar e os demais objetos.
   O que denominamos crença ou juízo não é outra coisa a não ser esta relação de acreditar ou julgar, que relaciona uma mente com várias coisas diferentes dela mesma. Um ato de crença ou se juízo é a ocorrência entre certos termos em um tempo determinado da relação de acreditar ou julgar. Em todo ato de juízo há uma mente que julga e os termos sobre os quais ele julga. (RUSSELL, 2005).
   No nosso exemplo a mente A, julga que B, C e D existem e desta forma a crença torna-se verdadeira, se qualquer um não tiver sua existência comprovada (por método de pesquisa) a crença é falsa. Por exemplo, Pedro acredita que João ama Maria, ou Pedro acredita que Paulo odeia Maria, ou Pedro acredita que Paulo ama Ana. Em todos os exemplos há uma não existência de um dos objetos da crença original, o que a torna falsa.
   Assim, uma crença é verdadeira quado ela corresponde a um determinado complexo associado, e falsa quando não corresponde. Admitamos, para maior clareza, que os objetos das crenças sejam dois termos e uma relação e que os termos sejam colocados numa certa ordem pelo "sentido" de acreditar. Então, se os dois termos naquela ordem são unidos num complexo pela relação, a crença é verdadeira; se não, ela é falsa. (RUSSELL, 2005).
   Lembremos, as crenças são fruto das mentes e dependem desta para sua existência (em nenhuma conexão com a realidade ou conhecimento), mas estas não dependem da mente para serem verdadeiras (dependem exclusivamente de fatores externos, da percepção nossa da realidade, e suas relações).
   Como se pode ver, a mente não cria a verdade ou a falsidade. Ela cria as crenças, mas uma vez criadas, a mente não pode torná-las verdadeiras ou falsas, exceto no caso especial onde elas dizem respeito às coisas futuras que estão dentro do poder da pessoa acreditar, como tomar o trem. O que torna uma crença verdadeira é um fato, e este fato não envolve de modo algum (exceto em casos excepcionais) a mente da pessoa que tem a crença. (RUSSELL, 2005)
 
    E se a noção intuitiva de verdade como uma espécie de acordo entre a crença e uma instância exterior (fatos) for mantida, então podemos ter opiniões verdadeiras de cuja verdade não sabemos. Á primeira vista, essa situação é desconcertante, pois seria natural desejar que também fossem verdadeiras aquelas opiniões das quais temos certeza. Mas a certeza não é um critério indicativo de verdade (DUTRA, 2010).
   E desapoiados dos dados primários, tudo que construímos são crenças e não verdades. E das crenças tudo pode ser afirmar, sobretudo que são falsas. E das verdades que foram construídas sobre dados de métodos sem rigor, não é justo que tomemos como falsos, porém nada mais são do que crenças.





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