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7 de out. de 2011

Investigações sobre o Entendimento Humano - Parte 1


    David Hume é o mais influente autor da escola empirista britânica (DUTRA, 2010). Meu desafio atual é fichar seu livro "Investigação sobre o Entendimento Humano" de 1751. A versão original eu não tive acesso, e imagino que o inglês desse período não seja para o meu bico. Andei lendo alguns textos portugueses deste século e descobri que não dá pra entender nada, logo, deduzo que é melhor procurar uma tradução um tanto mais recente. Encontrei a da editora Escala, confesso que não gostei muito da tradução, é rebuscada demais e se torna mais uma coisa para interpretar, como se já não fossem complicadas por si só as ideias de Hume. Enfim, essa foi a versão adotada de 2003.
    Na primeira parte do livro (seção 1) "Das diferentes classes de filosofia" o debate me parece mais um desabafo, uma justificação de sua forma de vida. É então uma argumentação em favor da ciência moderna que estava nascendo contra a metafísica. Por metafísica entende-se a total rejeição de todo raciocínio profundo (HUME, 2003). Definição clara e precisa.
   Para HUME (2003) a ciência da natureza humana pode ser tratada de duas formas diferentes:

   1.  A primeira trata o homem como nascido principalmente para a ação e como influenciado em suas medidas por gosto e sentimentos, procurando um objetivo, e evitando outro, de acordo com o valor que esses objetivos parecem possuir, e de acordo com a luz em que eles se apresentam. Trocando em miúdos: metafísica, o saber pela experiência (mas sem razão), basicamente sentimental, em sua forma mais pura as pessoas acreditam e conhecem as coisas de acordo com a importância que dão pra elas, se aproximando pela vivencia. É o saber da maioria das pessoas, excluindo-se aqui os que se interessam por filosofia e ciências.
   2. A outra espécia de filósofos considera que o homem se guia mais à luz da razão em vez da ação, e busca para formar seu entendimento em vez de lhe aperfeiçoar os costumes. Eles consideram a natureza humana como tema de especulação; examinam-na com rigoroso cuidado a fim de encontrar os princípios que regulam nossa compreensão, excitam nossos sentimentos e nos fazem aprovar ou condenar qualquer objeto, ação, ou comportamento particular.

    Em tom de desabafo: É certo que a filosofia fácil e óbvia terá sempre a preferência dos homens sobre a filosofia exata e abstrusa; e por muitos será recomendada, não só como mais agradável, mas mais útil. Já que o filósofo puro é um personagem comumente pouco aceito no mundo, pois inicialmente se supões que ele não contribui em nada para o benefício ou para o prazer da sociedade, já que vive afastado de toda comunicação com os homens e envolvido em princípios e noções igualmente remotas à sua compreensão. Por outro lado, o ignorante puro é ainda mais desprezado, já que em uma época em que florescem as ciências, não há sinal mais clado de estreiteza de espírito do que não se interessar por esses nobres entendimentos. (HUME, 2003).
   Hume (2003) argumenta que a ciência possui uma considerável vantagem sobre a metafísica (filosofia fácil e humana), pois sem ela, nunca poderia-se alcançar grau suficiente de exatidão nos sentimentos, preceitos ou raciocínios. Até os artistas (livres da filosofia da ciência) devem ter conhecimentos científicos em suas obras para conseguirem expressar seus sentimentos, se não for dessa forma, impossível dar a tonalidade certa a cada músculo, coisa ou expressão, tudo obtido através de pesquisa científica (racional ou empírica).
   Por mais árdua que se apresente essa pesquisa ou investigação interna, ela se torna, em determinada medida, indispensável aos que quiserem descrever com sucesso as aparências óbvias e exteriores de vida e maneiras (HUME, 2003).
   O caminho mais doce e inofensivo da vida passa pelas avenidas da ciência e do saber; e, quem quer que possa remover quaisquer obstáculos desta via ou abrir uma nova perspectiva, deve ser consedierado um benfeitor da humanidade. Embora essas pesquisas possam parecer árduas e fatigantes, ocorre aqui como certos espíritos ou com certos corpos que, por estarem dotados de grande vitalidade, necessitam de exercícios severos e colhem prazer naquilo que, para a maioria dos homens, parece penoso e laborioso. A obscuridade é, de fato, penosa tanto para o espírito como para os olhos; todavia, trazer luz da obscuridade, por mais trabalhoso que seja, deve ser agradável e reconfortante. (HUME, 2003).
   O posicionamento de Hume (2003) então é a favor da ciência, da filosofia e sobretudo da lógica, para ele o raciocínio exato e justo (matemático) é o único remédio universal adequado a todas as pessoas e aptidões, o único capaz de destruir a filosofia abstrusa e o jargão metafísico que, mesclados com a superstição popular, se tornam, por assim dizer, impenetráveis aos pensadores descuidados e se afiguram como ciência e sabedoria.
   Como exemplo a favor da ideia de que a filosofia da ciência é o melhor caminho ao entendimento humano, Hume (2003) diz que os astrônomos se contentaram por muito tempo em provar, com base em fenômenos, o movimento verdadeiro, a ordem e a grandeza dos corpos celestes até que surgiu um filósofo que, munido de um raciocínio certeiro, parece haver determinado também as leis e forças que dirigem e governam os movimentos dos planetas. E não há razão para temer que não tenhamos o mesmo êxito em nossas investigações sobre a organização e as faculdades mentais, quando feitas com igual aptidão e atenção.
   E o argumento final lembra em muito a insegurança de Descartes (2006) também nas primeiras linhas de seu texto, Hume (2003) diz que o fato dos raciocínios sobre a natureza humana serem abstratos e de difícil entendimento não induz a nenhuma pressuposição de falsidade, pelo contrário, é improvável que o que tem fugido aos filósofos e sábios seja muito fácil e evidente.
  Belo discurso contra a metafísica.  

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