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8 de set. de 2011

Quine em: Two Dogmas of Empiricism



      Hoje, e finalmente, trago o fichamento do texto Two Dogmas of Empiricism do Quine. Não se trata de um texto tão divertido... mas sua leitura é importante, e no caminho que estou traçando, é fundamental. Fiz a leitura em uma xerox do livro From a Logical Point of View, do qual só tenho esse trecho, e por falta de informações, tive que rastrear na web atrás da citação correta, já que nem o ano eu sabia. Pois não é que encontro uma dissertação nacional sobre o Quine, e nas citações... nenhum texto do Quine... isso diz muito.
    

     Os dois Dogmas do empirismo modernos segundo Quines (1951) são:

     1.  A crença de que há uma rachadura fundamental entre as verdades que são analíticas (fundamentadas nos significados independentemente dos fatos) e sintéticas (fundamentadas em fatos);
     2. Reducionismo. A crença de que cada afirmação é equivalente a alguma construção lógica em termos que se referem a experiências.

     Grande parte do texto é dedicado a explanação do que seria analítico. Se diz que uma verdade é analítica quando ela é em virtude de significados e independente dos fatos. Um estudo bem feito sobre verdade analítica deve considerar o texto de Kant (comprei por R$5,00 no sebo). Até meu original chegar me contentarei com o comentador Quines (1951) que afirma que na visão de Kant a lógica analítica é limitada pela incapacidade de fugir da relação sujeito-predicado e permanece presa ao nível metafórico.
     Sendo assim, o texto se faz entender que as normais gramaticais regulam a elaboração da verdade analítica, o que realmente trabalha no limite da nossa capacidade de bom senso, apenas esse posicionamento inicial faria-me acreditar que Quines é contra a verdade analítica.
    Quines estou me esforçando para não escrever quilmes (1951) debate primeiramente a relação entre palavras e coisas, e afirma que os nomes são arbitrários e isso os iguala em importância aos seus significados quando na relação analítica. Pois para análises desta natureza, sempre será necessário definir os termos. Entretanto existem duas classes de termos, os singulares (o oitavo planeta do sistema solar) e os gerais (criaturas com coração). 
    Termos singulares nomeiam entidades, abstratas ou concretas, enquanto os gerais não. Mas um termo geral  pode representar a verdade sobre uma entidade, de cada um ou de muitos ou de nenhum. A classe de uma entidade a qual um termo geral é dito verdade denomina-se extensão do termo (QUINES, 1951).
   Quando construímos uma verdade para o turismo em porto de galinhas, trabalhamos com um termo simples que é válido apenas para este, se fizermos um estudo para o turismo em praias do nordeste, o termo se torna geral e sua extensão define todas as localidades inclusas na verdade que dissermos.
   Algumas distinções começam a ser feitas. É comum de se confundir extensão com significado, sobretudo nos termos singulares. Os termos representam algo (extensão), mas não necessariamente significam isso. Significado, inclusive, é uma característica exclusiva das formas linguísticas (palavras), as coisas não possuem significados, elas possuem essência. Significado é o que a essência se torna quando está é separada do objeto e se junta à palavra. Significados por si só são entidades intermediárias obscuras e devem ser abandonadas (QUINES, 1951). ^^
   Argumentos analíticos não são difíceis de encontrar. Quines (1951) os distingue de duas formas, os primeiros que são verdadeiros independente do significado das palavras, e os segundos que se tornam verdade a partir do uso de sinônimos.

    1. Ninguém infeliz é feliz.
    2. Ninguém triste é feliz.

   Independente do significado da palavra feliz, a afirmação 1 sempre será verdadeira pela sua estrutura, sobretudo pelo uso do prefixo in-. A afirmação 2 torna-se verdadeira quando assumimos que triste é sinônimo de infeliz, e torna-se falsa, se assumirmos que triste possui um outro significado qualquer que perca o sentido de 1.
    Essa lógica, trivial, é necessária para verdade analítica. Não há mais dúvidas de como construir uma verdade analítica, mas isso não resolve nosso problema, dizer que o argumento 1 não serve para 99,99% dos casos é o obvio ululante, simplesmente porque ele não diz nada, apenas faz um jogo seguro de palavras que garante a validade de 2, que é onde cravaremos nosso conhecimento. Se 2 for verdade, existe uma gama ilimitada de afirmações possíveis, o problema então é "apenas" entender como garantir que 2 possui um sinônimo que nos leve a 1?
    Seja como for, não devemos aceitar que isso seja apenas um jogo de palavras, onde através do uso de sinônimos a verdade é construída. O propósito não é meramente parafrasear a definição com outras palavras, deve, na verdade, melhorar a definição através do refino ou suplementação de seu significado.
    Prestando atenção, isso é bastante complicado. Mas fica simples se entendermos que não adianta dizer que um homem infeliz não é feliz, temos na verdade que melhorar a explicação. Um homem infeliz é aquele que sofreu uma perca considerável em sua vida, por exemplo.
    Existem três formas então de parafrasear, segundo (QUINES, 1951)

1. Afunilando, dando um sinônimo com menor espectro de significados;
2. Melhorando a explicação;
3. Criando novos significados contextuais.

   O que caracteriza um sinônimo perfeito é a sua característica de interchangeabilidade (inventei essa palavra, talvez fosse melhor interaltabilidade... não sei), ou seja, capacidade que duas formas linguísticas tem de terem o mesmo valor, sem alterações, em qualquer contexto que sejam usadas (QUINES, 1951). Vejamos um exemplo prático para essa aplicação se é que isso é possível.


A. Todo e apenas os infelizes não são felizes
B. Necessariamente todos e apenas os infelizes são infelizes
C. Necessariamente todos e apenas os infelizes não são felizes.

   A frase B é verdadeira. Mas para dizer que a frase C é também verdadeira, devemos concluir que A é uma afirmação analítica e que Infeliz e Não feliz são sinônimos interchangíveis (inalteráveis), ou como denomina Quines (1951), sinônimos cognitivos. Essa categoria de sinônimo exige que a comparação analítica seja válida para a condição "se e somente se". Uma afirmação é analítica se ela for verdadeira e de acordo com as regras semânticas.
  É óbvio, também, que uma verdade geralmente depende de fatores linguísticos e extra linguísticos. A afirmação "Brutus matou César" seria falsa se o mundo tivesse sido diferente de alguma maneira, mas também seria falsa se a palavra "matou" tivesse outro sentido de trair. A afirmação então deve ser analisada através de um componente linguístico e um componente factual. (QUINES, 1951). E finalmente para jogar uma pá de cal nas afirmações analíticas: Uma fronteira entre afirmação analítica e sintética simplesmente não existe.

     Mudando de assunto, o reducionismo radical é aquele que prega que cada afirmação significativa é considerada traduzível em afirmação (verdadeira ou falsa) sobre uma experiência imediata. Reducionismo radial, de uma forma ou de outra, antecede a teoria da verificação. Locke e Hume sustentam que cada ideia precisa ser originada diretamente de uma experiência, ou composta por ideias também originadas pela experiência (QUINES, 1951).


    Ou seja, para uma afirmação ser verdadeira, ela analítica ou sintética (já vimos que a fronteira é muito tênue entre estas) precisa ter um sentido de experiência imediata para cada um dos seus termos, ou cada um destes pode ser analiticamente justificado por afirmações que (estas sim) foram fruto de experiencias imediatas. Neste caminho, o reducionismo radial acredita que tudo é empírico.
    Esses são os dois dogmas do empiricismo, as afirmações devem ser postadas de forma analítica ou sintética (se é que existe grande diferença) e são ligadas em algum graus à experiencias imediatas (reducionismo).
    Embora alguns pensadores como Carnap tenham quebrado o o reducionismo, ele é ainda utilizado pela grande maioria como Hume e Locke. Para Quines (1951) a ciência é dependente tanto da linguagem quando da experiência, pois ela é uma ferramenta que em ultima instancia antevê as experiências futuras baseado em experiências passadas.
    

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